Coloquei-me debaixo da ramagem
Para fazer da fresca sombra, amiga;
Vinha de cima uma feliz mensagem
Que tinha e sede na raiz antiga.
Depois é que notei que havia em cima
Canteiros com perfume, e variados,
E uns poetas alados, cuja rima
Tinham também violinos afinados.
Pensei depois na amável companhia
Destes orfeus celestes, cujo canto
Me fez lembrar aquela melodia
Que desceu a Belém dum Lugar Santo.
Chegou aos meus ouvidos, em surdina,
A lira das abelhas rumorosas,
E lembrei a doçura cristalina
Que abunda em tantas almas generosas.
Quanta paz se desfruta neste prado,
Quanta alegria inunda o coração...
O céu é mais azul, acetinado
E lá pairam as nuvens da ilusão.
Surge no pensamento esse canteiro
Com polen, com perfume e Primavera,
E também o farol no nevoeiro
De quem na sua vida pouco espera.
Recorda o paraíso este remanso,
Onde a luz é vestida de candura,
Ouve-se o riso de uma fonte pura
Alegrando o rebanho branco e manso.