Bem perto das corolas de veludo
Um batalhão de espinhos alinhados,
Cada qual para elas um escudo,
em defesa dos intrusos descarados.
Estes espinhos fazem-me lembrar
A dureza de toda a humana vida:
Os homens e as mulheres a lutar
Desde a alvorada até à despedida
Há espinhos na vida dos bébés,
Há espinhos na vida das crianças,
O mar humano tém cruéis marés,
Apesar do desejo das bonanças.
Há espinhos também na juventude
Que ferem corações a palpitar...
Há espinhos ao lado da virtude,
Apesar da coragem no lutar.
Há espinhos na vida de solteiros,
Há espinhos na vida dos casados,
São arrufos reais entre os primeiros,
E ciúmes nos outros, mal sanados.
São espinhos na vida, os desenganos,
São espinhos na vida, os sofrimentos,
Há lama nos caminhos mais humanos
E falta de luz nos dias mais cinzentos.
É espinho cruel qualquer doença,
Que afecta sempre a nossa humana vida,
O espinho do pecado é a presença
Da escuridão na alma denegrida.
Nós levamos no corpo e coração
Uma haste de espinhos aguçados...
Durante a vida, temos a ilusão
De em rosas serem todos transformados.
- Senhor, Senhor, Tu vês nossos caminhos
Com espinhos cruéis e sofrimento...
Ajuda-nos a pôr estes espinhos
No esperado baú do esquecimento.
Gondomar, 27-11-2009